Cancioneiro guasca
"Flores do pampa"

CANTO DO MONARCA

Eu sou o moço gaúcho,
Valente como os mais guapos;
Filho e neto de farrapos,
Republicano no mais!

Com o meu poncho de pala,
E laço e bolas nos tentos,
Vou mais ligeiro que os ventos
Por sangas e bamburrais...

O rei, montado no trono,
Tendo os ministros consigo,
Não se compara comigo,
No dorso do meu bagual;
Se ele é rei, eu sou monarca!
Se ele tem cetro dourado,
Tenho relho prateado
E a cancha do meu punhal!

Por Deus e por minha vida!
Tenho uma vontade ardente
Que ainda outra vez rebente
Aqui - a revolução!...
Mostraria à baianada
Que treme, a morder cartucho,
P'ra quanto presta o gaúcho,
Num pingo de opinião!...
De vez em quando - aparece
Um orador que se arrisca:
E n'assembléia se prisca
Para a banda popular...
Mas sempre encontra quem logo
Comece a pelegueá-lo,
Arme-lhe certo o pealo
E faça o bagual sentar!...

Eh puxa, mano! Parece
Que os sentimentos rodaram!...
As crenças s'encurralaram...
E o povo - marcha o garrão!

Estropeado e maceta,
Empaca o patriostismo
E anda no passo o cinismo
Por toda a povoação.

Eu que sou moço largado,
Valente como os mais guapos,
Filho e neto de farrapos,
Republicano no mais!
Hei de correr a rebenque
Os reiúnos sem valia,
Que, para mais picardia,
São filhos dos nossos pais!...

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