Cancioneiro guasca
Combate do rio Negro

A fuga de Antero Pedroso

De dentro do baluarte
Branco pano já subiu
As forças se admiraram.
Muitos bravos protestaram
Da pressa de quem pediu.

Pelos longes, nas coxilhas
O inimigo pasmou,
Esperava resistência
E não aquela paciência
E logo se aproveitou.

Isidoro estava inerte,
Já nem sabia ordenar
Galonados se meteram
E tudo comprometeram,
Podendo tudo salvar.

Pica-paus e maragatos
Custaram todos a crer
No que os seus olhos viam
- Panos brancos que subiam! -
Sinal de armas render.

Nesta hora Antero Pedroso
Mantinha ainda um piquete
Nas dobras duma canhada
E vendo aquela empreitada
De quem não tinha topete.

Dispersou a sua gente
E convidou quem topasse
O amargo cerco romper
E não se deixar prender
Quando a roda se fechasse.

O terror já dominava
Tantos gaúchos valentes
Que peleavam sem susto,
Nesta hora a muito custo.

Então Pedroso e um negro
- Negro macota e puava! -
Largaram logo os arreios
E de em pêlo, sem receios
Fingindo que nada se dava.

Foram encontrar a força
Inimiga, que orgulhosa
Vinha apertando os vencidos
E os dois - que dois destemidos! -
Bramindo em boca jocosa.

Iam passando e dizendo:
"Apenas gente! O Joca, general
Por mim vos manda dizer
Que acabam de se render
As forças do marechal".

"Agora vou adiante
Eu e este camarada
Avisar que venha vindo
E mudando, no caminho
As forças da cavalhada!"...

Mais um grupo, outro piquete
Infantes, cavalaria,
Reservas e sentinelas
A todos, com mil cautelas
A mesma ordem repetia.

Alfim, já fora das garras
Do inimigo embuçalado,
Os cavalos, de mansito,
Puseram a galopito,
P'ra evitar um alarmado.

Mas, lá de dentro do cerco,
Os maragatos estranhando
Que, só dum lado a sua gente
Viesse tão de repente
Sem ordem, sinal ou mando.

Mandaram logo indagar:
- "P'ra que chegavam-se assim? -
- Que ninguém havia dado
- Tão absurdo mandado
- E que parassem por fim"!

Então um, mais vivaracho,
Viu logo o buçal passado
Ao ver que nos prisioneiros
Carrancudos e altaneiros,
Antero não foi achado.

"Ah! gavião! sorro ladino!
De todos nós tu mangaste?!...
Saía gente a todo o rumo,
E vivo ou morto, presumido
Que o encontre e isso baste!"

Mas logo compreenderam
Que o caboclo destorcido
Se lhes havia saído
Dentre as mãos, 'stando seguro,
E como a noite fez um muro
Entre a má perseguição
E a heróica salvação
De vergonha emudeceram.

E Antero o pescoço salvou,
Que Manoel sacrificou!...

Egídio (?)
(Vulgo - Cabeleira - soldado do 2° batalhão provisório
da Brigada Estadual; 189...)


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