Cancioneiro guasca
Cantadas ao som do Hino Farrapo

Bento Gonçalves da Silva
Da Liberdade é o guia
É herói porque detesta
A infame tirania.

Contra a infame galegada
Ufanos trabalharemos,
Triunfando as nossas armas
Republicanos seremos.

Os galegos já contavam
Que a vitória fosse sua,
Quando entraram farroupilhas
De lanças e espadas nuas.

Aborrecemos o jugo,
Fazemos guerra aos tiranos
Juramos por nossas armas:
Seremos republicanos.

Guerra, guerra, fome e peste
Contra o malvado tirano!
E a todo o mais que não for
Liberal republicano.

Tenho o meu cavalo oveiro
Tosadinho a cogotilho,
Para correr os galegos
Como tropa de novilho.

Nos ângulos do continente
Pavilhão tricolor
Se divisa sustentado
Por liberdade e valor!

Amarrei o sol e a lua
Com a fita da Liberdade;
Aquartelando as estrelas
Só respeito a Divindade!

Liberal, republicano,
Rio-grandense - até a morte,
Hei de levantar bandeira,
Té onde for minha sorte!

Bento Gonçalves, primeiro,
General Neto, segundo,
Não se lhes há de atacar
Em qualquer parte do mundo.

Grande Neto, abençoado,
Teu nome é o que mais rebrilha;
Por isso é que serás sempre
O mimo dos farroupilhas.

Foi eleito presidente
Na vila Piratinim
O ilustre José Gomes
De Vasconcelos Jardim.

Há muito lombilho novo,
Caronas de couro cru,
Pois já vai chegando o tempo
De encilhar caramuru.

No dia vinte e quatro,
No passo do Canapé,
Bento Manoel escapou-se
Só co'uma bota no pé.

O Lima subiu ao valo
Como um grande valentão;
Uma bala levou-lhe o queixo
Desmaiou, caiu no chão.

Os bravos filhos de Marte
Juravam pela existência,
Sustentar a todo o custo
Da Nação a independência.

Amante, firme, independente,
É dever de um filho honrado,
Pela Pátria dar a vida,
É justo, é dever sagrado.

Unidos, amantes briosos
Da feliz fraternidade;
Seremos republicanos,
Justa lei da liberdade.

Quem saudoso inda suspira
Pelo amado cativeiro,
Vá servir a seu senhor:
Deixe o solo brasileiro!

Quando a voz da Pátria chama,
Devemos obedecer;
Na frente cantando o hino:
- Ou liberdade ou morrer!

Mimosas rio-grandenses,
Criai bem vossos filhinhos,
Que a Pátria muito precisa
Do vigor dos seus bracinhos.

Porto Alegre e Rio Pardo
Seguem a mesma opinião;
Por não poder suportar
Esta vil escravidão.

Bento Gonçalves da Silva
Foi preso, foi desterrado;
Mas deixou o bravo Neto
P'ra cumprir os seus tratados.

O Neto gritou na frente.
O David na retaguarda:
- Esta corja de cativos,
Para os livres não são de nada!

Valente David, guerreiro,
Que na mão sustenta a espada!
Atropela, prende e mata,
A nojenta galegada.

Graças imensas são dadas
A Gonçalves Lima e Neto;
Viva o Coronel Crescêncio!
E seus camaradas libertos!

Onofre rendeu as armas
Com dores no coração;
Não foi falta de coragem,
Foi falta de munição.

Qual seria o farroupilha
De tão duro coração.
Que foi dizer aos galegos
- Que não tinham munição!

Se eu não sou republicano,
O Deus do Céu não me escute,
A luz do dia me falte,
A terra não me sepulte!

Senhor Neto vá-se embora,
Não se meta a capadócio;
Vá cuidar dos parelheiros,
Que fará melhor negócio.

Senhor Neto não precisa
De cuidar de parelheiros;
Já lá tem Silva Tavares,
Só'stá faltando o Medeiros.

Mais vale um farroupilha
Que tenha uma saia só
Do que duas mil camelas*
Cobertas de ouro em pó.

Ó galego, pé de chumbo,
Calcanhar de frigideira,
Quem te deu a confiança
De casar com brasileira?

Ó galego, talão grosso,
Cara dura, unha de gancho,
Hei de correr-te a rebenque,
Se pisares no meu rancho.

Hei de mandar escrever
Por montanhas e desertos,
Em letras d'ouro este nome:
- Antônio de Sousa Neto. -

O dia oito de outubro
Foi um dia soberano,
Em que no Seival soou
O grito republicano.

As pedras vertiam sangue,
As árvores davam gemidos,
Por verem os patriotas
Da sua pátria corridos.

Bento Gonçalves farroupilha;
Bento Manoel caramuru;
Juntaram-se estes bentinhos,
Fizearm da província angu.

Tenho uns arreios velhos,
Carona de couro cru,
Com que pretendo encilhar
O partido C'ramuru.

Noo campo de honra andamos
Fevereiro, março, abril,
Defendendo a nossa causa,
Commo filhos do Brasil.

Minha mãe eu lhe dou parte;
Não me chame de tirano,
Vou seguir as minhas armas.
Porque sou republicano.

O herói Bento Gonçalves
Que de nada se temeu,
No dia 20 de setembro
Bateu palmas e venceu.

A vinte e cinco de maio
No passo de Inhanduí,
Camelo virou capincho;
Ninguém me contou, eu vi.

Deixei mãe, deixei mulher,
Deixei o rancho e cabedais,
P'ra seguir meus companheiros
Republicanos liberais.

Não dês guarida aos tiranos
Oh! altas serras do norte!
Oh! brandos campos do sul
A tirania traz morte!

No outro lado da linha
Lá p'ra Banda Oriental,
Vou arriscar minha vida
No partido liberal.

De setembro o grande vinte
Torna de novo a raiar;
Empresa tão gloriosa
É tempo de terminar.

Graças mil te sejam dadas,
Grande Bento abençoado;
No Brasil, em toda a parte,
É teu nome respeitado.

Para fazer num instante
Tremer o Brasil inteiro,
Á frente de mil heróis,
Temos um Lima guerreiro!

Viva a coluna dos livres
Viva o povo rio-grandense,
Que aos olhos de todo o mundo
Vencerá o fluminense!

Um João Antônio famoso
Qual raio do deus Mavorte,
Arremessa entre os cativos
O terror, o susto, a morte!

Setenta e tantos algozes,
Sectários da escravidão,
O braço de um Agostinho
Enviou a Deus Plutão.

Ainda na terra floresce
O sangue de um Amaral!
Há de ser como este sangue
A liberdade imortal.

Se heróis valentes como estes
Em prol da pátria morreram,
Da terra, contra os tiranos,
Veremos outros nascerem!

Já vem o Silva Tavares
Com a sua gente armada,
Perguntando pelo Neto
Mais a sua farrapada!

No passo da Cachoeira
Rio de sangue se formou
Das cabeças dos tiranos
Que a espada livre cortou.

No dia 7 de Setembro
No campo da Boa Vista,
Foram presos João Lourenço
E outros mais legalistas!


* Outra denominação da "legalidade".

Cancioneiro guasca       Volta ao início da página