Cancioneiro guasca
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Já não ando enrabichado,
Não arrasto o meu cambão!
Aos bamburrais da tristeza
Foi-se o pobre coração.

Que de saudade que sinto
Das coxilhas lá do Sul,
Dos campos onde escarceia
Meu parelheiro taful!...

Ai vida longe dos pagos,
Vida tirana, por Deus!
Quem não gosta da querência.
Da querência que é dos seus?...

Abombado, cabisbaixo,
Ando nas terras de cá;
Deixo as bolas, deixo o laço.
Deixo o pingo, tudo já.

Boi xucro que vai na tropa,
Não chora o que eu já chorei.
Ai saudades do meu peito,
Saudades do que eu deixei!

Vem-me tudo na memória:
As tronqueiras e o curral,
A estância com seus potreiros,
O vargedo e o macegal!

Vem-me a casa das Marucas,
Junto ao cerro do Baú...
Marucas, a morenita,
Sem parelha no tatu.

O tempos que eu rosetava
Com Marucas no sertão,
Chilenas de prata fina
Repinicando no chão.

Adeus, barrigas-verdes,
Já vou a monarquear,
Gosto mais do meu churrasco
Que desses bagres do mar.

Dos campos do meu Rio Grande
Muito quero e té demais;
Lá como dos meus rodeios
E bebo dos meus ervais.

Volto à cancha dos amores,
À cancha do meu viver,
Que só lá posso chibante
Estar com meu bem querer.

Eh! muchacha, se me viras,
Jurarás que não sou eu;
Pois vou-me desbarrigando
Como quase quem morreu.

E jurarás por teu rosto,
Encarnadinho como uvá,
Que fiquei-me sem pelego
E tornei-me boi-tatá!...

Retovei as boleadeiras,
Nova inhapa o laço tem.
Heup! Heup! a toda rédea!...
Prisco a prisco rompe além!...

Vamos, pingo, terra fora,
Feia terra que pisei!
Ai saudades, ai saudades,
Saudades do que deixei!

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